3 de abr. de 2013

Discalculia


TEXTO 1

A discalculia é a dificuldade em lidar com cálculos, numerais e quantidades, dificultando as actividades de vida diária que envolvem essas habilidades e conceitos. Indivíduos com transtornos na matemática, têm a capacidade para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático substancialmente inferior à média esperada para sua idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade. É uma falha na aquisição da capacidade e na habilidade de lidar com conceitos e símbolos matemáticos. Esta dificuldade está na base do reconhecimento do número e do raciocínio matemático e envolve a dificuldade na percepção, na memória, na abstracção, na leitura, no funcionamento motor e combina actividades dos dois hemisférios.Em suma, a criança com discalculia é incapaz de:• Visualizar conjuntos de objectos dentro de um conjunto maior; • Conservar a quantidade, o que a impede de compreender que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas;• Compreender os sinais de soma, de subtracção, de divisão e de multiplicação (+, –, ÷ e x);• Sequenciar números, como, por exemplo, o que vem antes do 11 e depois do 15 (antecessor e sucessor);• Classificar números;• Montar operações;• Entender os princípios de medida;• Lembrar as sequências dos passos para realizar as operações matemáticas;• Estabelecer correspondência um a um, ou seja, não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras; e• Contar através de cardinais e ordinais.
Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:• Dificuldade na memória de trabalho;• Dificuldade na memória das tarefas não-verbais;• Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefa de escrita);• Ausência de problemas fonológicos;• Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem;• Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;• Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-tácteis.
Segundo Johnson e Myklebust (1983), a discalculia classifica-se segundo seis tipos:a) Discalculia Verbal – dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações;b) Discalculia Practognóstica – dificuldade para enumerar, comparar e manipular objectos reais ou em imagens, matematicamente;c) Discalculia Léxica – dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;d) Discalculia Gráfica – dificuldades na escrita dos símbolos matemáticos;e) Discalculia Ideognóstica – dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; ef) Discalculia Operacional – dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.

TEXTO 2
Embora o aprendizado da matemática possa sofrer interferência por várias razões, como o ensino deficiente de algumas escolas ou graves problema psiquiátricos, o que a ciência cognitiva tem comprovado nos últimos anos é que o principal motivo que leva uma criança a ter dificuldade para aprender matemática são alguns déficits cognitivos.
Ao contrário da dislexia, os estudos na discalculia ainda estão incipientes e muita coisa ainda temos que descobrir.
A região cerebral mais importante para as habilidades matemáticas é o lobo parietal. Porém, muitas áreas cerebrais estão envolvidas e necessitam estar em perfeito funcionamento para o bom desempenho em matemática. Isto siginifica que fazer cálculos, aprender a tabuada e entender as histórias matemáticas dependem de várias funções mentais que precisam estar íntegras. Enquanto na leitura a linguagem é a principal função cognitiva envolvida, na matemática muitas funções agem conjuntamente e o comprometimento de um delas já pode trazer problemas no aprendizado. Daí a necessidade de uma avaliação neurocognitiva detalhada no estudo de crianças com discalculia.


SINTA COMO É SER PORTADOR DA DISCALCULIA.
Vamos nos colocarmos na pele de uma criança com discalculia para que deixemos de julgá-la e possamos entender e sentir o que ocorre com ela:
Vamos supor que você goste de fazer cálculos de matemática. Subitamente surge uma nova regra, agora a velha e conhecida tabuada muda todo dia. A cada dia há uma tabela nova, onde os resultados são modificados, por exemplo, hoje 5+6 é 12, amanhã pode ser 9 ou 40, depende da cabeça de quem faz a tabela.
Assim, "antigamente", para somar 25+19, você rapidamente calculava o resultado e dava: 44. Com as novas mudanças, você precisa olhar na tabela cada vez que vai calcular.
Hoje a tabela (nova tabuada) é a seguinte:
5+9 é 11
2+1 é 7
1 + 7 é 16.
Agora calcule 25 + 19. vamos ver quanto tempo leva e se você acerta.
PODE TENTAR...
PODE TENTAR...
PODE TENTAR...
TERMINOU???
Assim, segundo a “nova tabuada" o resultado do cálculo 25 + 19 será:
5+9=11, fica 1 e eleva o outro 1; 2+1 é 7, mais o 1 que foi elevado dá 8, então resultado será 81. Espera aí! O 1 que foi elevado e somado ao 7 não resulta mais em 8, porque hoje a tabela diz que 1+7 é 16!!!


Dá para entender a dificuldade de fazer um cálculo assim? Você desiste de fazer qualquer cálculo e não quer mais nem saber de matemática! Cada cálculo é um sacrifício enorme, a tabela tem que ser consultada a cada passo. Um trabalho sacrificante. Agora pense que pode ocorrer algo mais ou menos assim se uma criança apresenta um sério problema de memória para fatos matemáticos! Ela precisa contar nos dedos cada vez que vai fazer uma conta, porque, devido a um problema na memória, o que parece simples para os outros, é um tormento para ela.







OUTROS SINTOMAS COMUNS


- Não consegue entender ou lembrar os procedimentos matemáticos, ou seja, esquece COMO se faz uma conta. São os chamados erros nos procedimentos matemáticos.

- Não entende os conceitos matemáticos. Por exemplo, tem dificuldade em entender que significa a palavra “adição”, ou que a multiplicação é a soma de um mesmo número por diversas vezes (3 x 4 é igual a 4 + 4 + 4).

- Dificuldade em usar a matemática no cotidiano.

DÁ PRÁ DIAGNOSTICAR A DISCALCULIA ANTES DE CHEGAR NA IDADE ESCOLAR?
       
É possível dizermos com bom grau de confiabilidade se uma criança terá dificuldade no aprendizado em matemática.
Isto porque atualmente sabemos quais são as funções mentais necessárias para o aprendizado em matemática.
Assim, mesmo antes de entrar na escola, podemos avaliar se estas funções mentais estão funcionando de forma normal.
As principais funções incluem: a memória de trabalho verbal e visual, memória de longo-prazo, a linguagem, o raciocínio quantitativo, funções visuoespaciais e a numerosidade.
NUMEROSIDADE é a habilidade “pré-matemática” mais precoce e refere-se a capacidade que uma criança tem de identificar e quantificar automaticamente pequenas quantidades. Assim uma criança com 4 anos consegue olhar 3 ou 4objetos e dizer, sem contar, que existem 3 ou 4 objetos naquele grupo.
No desenho abaixo, é medido quanto tempo a criança leva para perceber que existem 3 pontos. Crianças com discalculia precisam contar cada bolinha para saber que existem 3 bolinhas.

COMO DIAGNOSTICAR, TRATAR A DISCALCULIA


A Discalculia não têm especificamente uma única causa, mas um conjunto delas que se relacionados a fatores internos e externos do sujeito é possível diagnosticá-la com sucesso e determinar seu tipo. Como todo distúrbio de aprendizagem, o processo de diagnóstico da discalculia requer observação minuciosa e atenção aos sintomas e fatores contribuintes.  Fatores internos e externos: Memória, atenção, percepção-motora, organização espacial, habilidade verbal, falta de consciência, falhas estratégicas, dificuldades em operacionalizar funções matemáticas simples, maneiras de se ensinar e aprender as habilidades aritméticas, ambiente de estudo e familiar, entre outros.
Uma observação importante feita por Silva (p. 24) é a de que o portador de discalculia escreve pouco por medo de errar, suas respostas são geralmente monossilábicas e dificilmente se expõe em atividades em grupo. Durante as sessões de diagnóstico de uma pessoa com suspeita de Discalculia é importante ficar atento aos sintomas e investigar seu histórico. 

Um discalcúlico apresenta:

  • Lentidão extrema na realização das atividades aritméticas;
  • Dificuldades de orientação espacial;
  • Dificuldades para lidar com operações matemáticas (adição, divisão, subtração, multiplicação);
  • Dificuldade de memória de curto e longo prazo; 
  • Dificuldades em seguir ordens  ou informações simultaneamente;
  • Problemas com a coordenação motora fina, ampla e perceptivo-tátil;
  • Dificuldades em armazenar informações;
  • Confusões com símbolos matemáticos;
  • Dificuldades para entender o vocabulário que define operações matemáticas;
  • Dificuldades com a sequenciação numérica (antecessor/sucessor);
  • Problemas relativos à Dislexia (processamento de linguagem);
  • Incapacidade para montar operações;
  • Ausência de problemas fonológicos;
  • Dificuldades em estabelecer correspondência quantitativa (ex: relacionar números de carteiras com números de aluno);
  • Dificuldades em relacionar grafemas matemáticos às respectivas quantidades;
  • Dificuldades em relacionar grafemas matemáticos ao seus símbolos auditivos;
  • Dificuldades com a contagem através de cardinais e ordinais;
  • Problemas em visualizar um conjunto dentro de um conjunto maior;
  • Dificuldades com a conservação de quantidades (ex: 1 lt é o mesmo que 4 copos de 250 ml); Dificuldades com princípios de medida. 

O sujeito discalcúlico pode não apresentar todos estes fatores, mas a maioria com certeza se caracterizará, e é possível, também, que ele apresente outros novos, pois cada indivíduo é único e traz consigo histórias de vida diferentes. Outro aspecto a se levar em conta é que alguns discalcúlicos têm o seu raciocínio lógico intacto, porém têm extrema dificuldade em lidar com números, símbolos e fórmulas matemáticas. Outros, de acordo com Sacramento (2008 np), serão completamente capazes de solucionar representações simbólicas como 3+4=7, mas incapazes de resolver "João tinha três reais e ganhou mais quatro. Quantos reais ele tem ao todo?".  


COMO TRATAR E AUXILIAR O DISCALCÚLICO.

Por ser um transtorno  psico-neurológico, de ordem congênita ou adquirida, seus sintomas, apesar de contornáveis, serão sempre uma  constante. O tratamento, portanto, terá a característica de um treinamento que visa amenizar os sintomas, corrigir os fatores contribuintes e resgatar a autoestima do paciente para que este tenha uma melhor qualidade de vida e autonomia para elaborar estratégias que viabilizem seu sucesso em tarefas que, outrora, lhe eram praticamente impossíveis de realizar. A recuperação de um discalcúlico é geralmente bem-sucedida quando aplicada passo a passo, respeitando o nível em que cada paciente se encontra e avançando gradativamente de acordo com seu ritmo. Cawley e Vitello (1972, apud GALLAGHER e KIRK, 1999) desenvolveram um modelo para o ensino da matemática onde há a interação aluno-professor dentro de uma unidade conceitual utilizando estilos de aprendizagem e fatores que a influenciam fazendo do aprendiz um operante. Contemporaneamente, Cawley e Goodstein (1972, apud GALLAGHER e KIRK, 1999) desenvolveram materiais que implementam o ensino e treinamento da matemática. Estes são chamados, segundo Gallagher (1999), de "o sistema de Cawley e Goodstein e os materiais de Montessori".
O ensino da matemática se trata de construir estruturas básicas de interação, classificação, correspondências, grupos etc., ou seja, o saber matemática vai além de ensinar cálculos (LIMA, 2000, apud SILVA, 2008). Como o lúdico é considerado um promotor de aprendizagem e construção de saber, também é visto como um mecanismo psicológico e pedagógico que contribui para o desenvolvimento mental e como um aliado na aquisição de estruturas psiconeurológicas essenciais para a cognição.
As atividades lúdicas devem ser valorizadas por que delas é possível desenvolver estratégias para a solução de problemas. Para os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) os jogos
[...] constituem uma forma interessante de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo interativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução de problemas e busca de soluções. Propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações
[...] podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes - enfrentar desafios, lançar-se a busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o resultado não é satisfatório necessárias para a aprendizagem da Matemática (BRASIL, 1998, p. 46-47 apud SILVA, 2008, p. 29).
É notável a importância dada a "situações-problemas" que promovem estratégias criativas de resolução. Dante (1989, apud SILVA, 2008) apresenta um modelo de resolução de problemas por quatro etapas onde é preciso:
1.    Compreender o problema (análise do enunciado);
2.    Elaborar um plano (organizar os dados e se basear em experiências anteriores);
3.    Executar o plano elaborado (experimentar o plano);
4.    Examinar a solução encontrada (checar os resultados). 

A utilização de jogos como o Tangram, Trimu, Matix, Palitos, entre outros são sugestões de atividades promotoras de situações-problemas que podem ser utilizadas no tratamento clínico, pedagógico e na interação familiar do discalcúlico.

A dificuldade em se encontrar informações a respeito da discalculia, disgrafia e, principalmente, da disortografia, nos revela certo paradoxo. De acordo com o CID-10, esses três distúrbios estão entre os mais comuns e incidentes já registrados, ficando atrás apenas da Dislexia e do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 


Fonte: psico09.blogspot.com.br

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